Quando uma pessoa te decepciona, o culpado não é o amor

Eu me apaixono a todo instante, mas raramente por outras pessoas. E você vai entender exatamente o que eu quero dizer.

Uma vez eu li a frase “Diz que não acredita no amor pra ver se o amor acredita nela.”

Acho curioso quem diz “não acreditar no amor”. É tanta fixação pelo amor romântico, como se ele fosse a única forma de sentir a vida pulsando amor. E essa obsessão parece simplesmente cegar as pessoas pra todas as outras TANTAS formas de se experimentar o amar.

Mas não seria esse o caminho oposto do amor? Ele não deveria expandir o seu olhar pro mundo, ao invés de minar as suas referências e perspectivas?

Por isso é inevitável que, no mesmo instante em que eu ouço uma pessoa dizer que desistiu do amor, eu já a visualize envolta por camadas e camadas de medos, decepções e bloqueios. Talvez ela construiu todo esse cenário sozinha, talvez a arrastaram até esse ponto. Ela pode ter sentido algo direto na pele ou até observado a dor de alguém bem de perto.

O fato é que eu não faço ideia de como ela veio parar ali, a ponto de ser capaz de ignorar todos os fragmentos de amor que existem num só dia. A ponto de apenas não se encantar mais.

Como você pode ter desistido do amor, se ele está bem aí com você diariamente? Ao seu redor, em toda parte. Porque é isso que o mundo faz. Ele pulsa, vibra e emana amor em cada cantinho que você se dispor a observar.

Há músicas que te renascem, poesias que te abraçam e construções que te maravilham. Águas correntes que te purificam, céus que te tiram o fôlego e um sol que te aquece lentamente. Há risadas que ressoam, perfumes que te transportam no tempo e momentos que ficam tatuados na sua mente pra sempre.

O amor romântico é somente uma das bases de todo esse sentir. Uma em meio a tantas e tão importantes quanto. Portanto, traumas no romance não deveriam te afastar do amor, pois isso só te afasta do viver.

Quando uma pessoa te decepciona, o culpado não é o amor.

Então não é por alguém que você deveria se preocupar em se apaixonar ou não.

É pela vida.

Que passa.

Fernanda Rocha

É no céu que a vida acontece

Não sei como tudo isso começou. E sei que coisas assim sempre têm um princípio, um motivo, um passado. Mas essa raiz eu não alcancei, ainda. Apenas sei que eu não confio.

Em ninguém.

Às vezes eu penso que o que é meu é muito meu para entregar a um outro assim. Às vezes eu não acredito que o outro esteja mesmo disposto a cuidar, a se doar, a ouvir e se abrir com sinceridade. Tudo parece estratégico, raso, ensaiado, proposital. A melhor fala, a música mais cool, o livro mais interessante, a foto mais atraente. Soa apenas convincente aos ouvidos de quem não se convence nada fácil.

E então eu não entro no jogo, na verdade eu sequer me interesso o suficiente para ficar na torcida. Me sinto sempre correndo contra o tempo pra ir atrás do que eu quero, investigar o mundo, experimentar o que eu ainda não conheço e me entender. Não sobra espaço para preocupações com meias respostas, o que dizer, como chamar atenção… O cansaço vem só de pensar nesse esforço em equilibrar ansiedade, carência e migalhas. Quando se está ocupado colhendo migalhas pelo chão, você perde as estrelas lá do alto. E é no céu que a vida acontece.

Por isso eu peguei tijolo por tijolo e os fui empilhando. Um a um, um muro inteiro se formou. E eu percebi que ironicamente do lado de cá é bem solitário, mas nada silencioso. Pensamentos passam a mil e não tem ninguém que realmente os ouça e muito menos te compreenda. Então a busca interna por respostas tem que se tornar ainda mais intensa. Ninguém vai te dizer o que fazer, como se sentir, do que gostar. Só tem você aqui…

Talvez tenha mesmo algum problema em se achar melhor sozinha. Em se sentir bem consigo mesma e só. Em abraçar os momentos de solitude como parte do caminho. Você é dona de si, mas esse posto tem um preço alto. É que a autossuficiência é também uma estratégia. É o seu mecanismo defesa contra o mundo, a dor, as decepções. Mas o mais irônico é que você não deixa de sofrer por estar só. Se manter fechada apenas faz com que você seja a única a lamber as suas feridas, a ouvir seus gritos e a te enxergar verdadeiramente. Mas é um preço que eu escolho pagar em troca do autoconhecimento e, principalmente, da minha paz de espírito.

Essa independência emocional pode ser mal vista, pois ela se disfarça de muitas coisas e confunde o olhar do outro. Frieza, desinteresse, arrogância, solidão… Mas será que as pessoas não sabem como é se sentir sozinha também ao lado de tanta gente? Será que nunca viram desinteresse estampado na cara de alguém que deveria te ouvir? Ter uma companhia não te faz menos carente, assim como estar só não te blinda das frustações. Eu apenas penso que a minha companhia tem quer ser suficiente e ótima para mim mesma, antes de ser assim para qualquer outra pessoa. Construir muros de desconfiança pode não ser a melhor opção, mas, se é a forma com a qual eu me conecto comigo mesma de verdade, então esse vai ser o caminho que eu vou percorrer. Os muros são altos, mas a vista do céu é linda.

É raro permitir a entrada de alguém para o lado de cá, é verdade. Leva tempo, dá trabalho… mas uma vez que a guarda foi baixada, o outro tem as chaves nas mãos para ir e vir quando quiser. Trazendo flores ou espinhos, é uma troca sempre rica e a confiança se torna totalmente cega. Sem preocupações ou paranoias, aqui se torna um lar seguro. Para os dois. Mas se um dia o outro decide partir de vez, é definitivo. As chaves ficam comigo, a porta se fecha e então é hora de fortalecer os muros e me reconstruir.

Mais uma vez.

– Fernanda Rocha

Às vezes nós só precisamos nos reencontrar mais maduros

PARTE III

Nada foi como o planejado. O itinerário, o quarto, a companhia. Nem o voo, a chuva ou a despedida.

Mas foi quando tudo saiu do controle que as coisas realmente se encaixaram. Nós paramos de nos atrapalhar e realmente estávamos ali, presentes, desfrutando de uma intensidade até então desconhecida. Foi engraçado lembrar de como nós demos muito errado até finalmente o nosso caminho se alinhar, mesmo que por apenas um breve momento. Às vezes nós só precisamos nos reencontrar mais maduros…

Você iria embora de vez, e eu logo depois de você. O nosso “nós” não tinha a menor chance, como nunca teve de fato, mas mesmo assim nada disso soava triste. É que meus ouvidos só ouviam as pazes e aquele som embalava o meu corpo cansado.

Parecia que as nuvens também tiravam um certo peso das costas naquele fim de semana. Ou talvez elas apenas desejavam que essas cenas fossem realmente escritas nas memórias daquelas duas pessoas que nada podiam fazer a não ser se conhecerem melhor enquanto as gotas caíam lá fora, sem interrupção.

Uma passagem de avião foi comprada, colocando enfim um prazo de validade para aquele momento que, até então, acontecia meio fora de órbita. E ali, na catraca de uma estação lotada, um beijo na testa selou tudo o que se foi dito, vivido e experimentado. E então eu parti.

Eu não esperava que você magicamente mudasse após esse doce reencontro. Na verdade, eu não sabia o que esperar. Mas mesmo você se mostrando mais vulnerável para mim, e até para os outros, nós fomos novamente levados para um vazio já conhecido. Naquele silêncio onde parece que o único som são meus pensamentos acelerados e o disco arranhado que insiste em repetir a mesma estrofe de novo e de novo.

E foi então que eu entendi. Não era você que precisava mudar, eram as minhas expectativas. Não havia outro culpado senão eu mesma, que insistia em entrar numa batalha na qual a frustração sempre iria vencer.

Muitas vezes esperamos que o outro diga e aja de acordo com o que nós julgamos ser o ideal, provavelmente como nós mesmos agiríamos na mesma situação. Imaginamos que a cena sairá como aquela que criamos na mente com os mínimos detalhes. Mas nem sempre o outro se encaixa naquele mesmo papel. E tentar encaixar as pessoas é a pior injustiça que podemos cometer. Com os dois.

E é exatamente isso que você me ensinou. E continua me ensinando, na verdade.

Cada um tem a sua essência, o seu modo de enxergar o mundo e a sua maneira de expressar tudo o que se passa por dentro. E isso é de fato maravilhoso. Todos nós funcionamos em vibrações diferentes, tempos diferentes. Há muitos sentimentos, interpretações e egos envolvidos. Não cabe a nós pedir que ninguém mude. Nos cabe apenas a maturidade de perceber o que é bom para nós, o que não nos faz bem e então decidir quem deve permanecer, qual a hora de insistir e, principalmente, reconhecer a hora de partir.

Eu não fazia ideia do que tudo aquilo significaria pro futuro, mas eu tinha a plena certeza de que eu estava aprendendo uma lição que levaria sempre comigo.

Segundas chances são válidas e ouso dizer que são preciosas. Porém, elas nem sempre vão ser sobre mudanças concretas, ou sobre aceitar alguém ou algo de volta. Às vezes elas são uma nova oportunidade para colocar os sentimentos às claras, ressignificar o que passou e então, talvez, seguir em frente. Mas agora com o coração verdadeiramente em paz.

Eu finalmente compreendi que essa história brilha melhor na memória, onde ela vai permanecer segura e intocada, saindo apenas para encher os ouvidos e os corações de quem precisa de um exemplo real de que coisas boas podem vir do tentar de novo.

Fernanda Rocha

“Apenas amigos”

Eu estava me enganando o tempo todo em dizer que éramos apenas amigos. O jeito como você acendia aquele cigarro, seu cabelo escuro contrastando com sua pele muito clara, e como seus olhos ficavam tão pequenininhos quando você sorria, é, ainda não saíram dos meus pensamentos. E embora eu quisesse por diversas vezes, ainda assim essa parte eu não quis abrir mão de esquecer. Porque eu te achava singular. E ainda me encanto por isso. A jaqueta de couro, a camisa do Star Wars, o óculos de nerd, seu jeito fácil e sensível de se expressar, bem o oposto ao gosto exótico pela música metal (pesado). Reunidos em uma só pessoa. Às vezes, penso que todo esse tempo tive é a vontade de saber mais a respeito.

Quando seus beijos percorriam minha coluna nua, eu me arrepiava de um jeito bom. Quando eu me conectava a você, o contato visual, era só o que eu queria manter. Sinto dizer que não encontrei essa conexão em outros depois de você. E isso me deixou bastante irritada por um tempo. Mas hoje sei que essas coisas são especiais, e portanto, difíceis de serem encontradas por aí. Não estamos falando somente de atração. E infelizmente “é só amizade” foi a resposta mais fácil para duas pessoas imaturas.

Sim, fiquei mal por um tempo quando as coisas entre nós acabaram. Na verdade, acho que não me conformei com fato de elas nem sequer terem começado de verdade. Mas tudo bem, há coisas que não precisamos entender, porque não era mesmo para acontecer. Ou caso o contrário, eu não teria aprendido tanto sobre mim. E como haviam sentimentos aqui dentro que necessitavam de mais atenção e carinho, antes que eu decidisse me abrir para alguém. E hoje entendo que o mesmo ocorria a você.

Thábada.

É quando nos vemos intimamente mais solitários

Apenas você e a sua própria companhia. Isso pode ser algo que te assuste… Estar sozinho frequentemente é relacionado à solidão. E solidão é triste, certo? Bom, eu penso que não. Com certeza pode ser melancólico, claro, mas isso depende mais dos rumos da sua própria mente do que do fato de se estar sozinho ou não. Pois, às vezes, quando estamos cercados de pessoas é quando nos vemos intimamente mais solitários.

Eu mesma já me senti bastante solitária com alguém bem ali do meu lado. Eu percebia que eu não era vista de fato, como se os meus medos e pensamentos mais profundos não fizessem a menor diferença. Eles sequer eram relevantes para se tornarem pauta. Afinal, não era para o meu eu de verdade que as luzes do palco eram direcionadas, e sim para o que eu representava, para o alívio que eu podia trazer, a paz que eu podia gerar.

Mas eu já não cabia mais no pequeno espaço reservado para mim. Eu precisei então interromper um fluxo que me machucava aos poucos há bastante tempo. Eu tive que escolher a mim mesma. E essa foi a melhor decisão que já tomei.

Eu coloquei um pé fora da sombra de um outro alguém e gostei do calor da luz sobre o meu corpo. E a cada novo passo eu era apresentada a um novo questionamento e um consequente aprendizado. Eu enfim enxerguei o meu reflexo, encontrei a minha voz, desafiei a minha força.

Esse processo doeu, mas não da forma que eu esperava. Meus dias não foram regados de raiva ou outros sentimentos que rapidamente se esvaem. Não foi como o arrancar de um curativo, foi preciso compreender as minhas feridas uma a uma. Um longo descobrimento de todos os efeitos dos traumas que ainda faziam questão de brilhar ao decorrer do caminho, quase como sinais de alerta de que um dia uma entrega não-saudável aconteceu ali.

No fim das contas, a “solidão” foi quem me trouxe clareza e finalmente paz. Eu deixei de estar só, pois eu me tornei minha e inteiramente minha. Hoje eu me sinto parte de um todo, pequena na grandeza vasta desse universo de possibilidades. Mais pertencente a um mundo que gira a todo instante, sempre nos mostrando algo maravilhoso com o gostinho do desconhecido.

Mais que nunca, hoje eu me sinto livre.

– Fernanda

#11 A linha tênue que separa a entrega máxima do inconcebível

Muito eu aprendi viajando sozinha. A minha lente para o mundo se ampliou e mudou bastante, ao mesmo tempo em que eu passei a ligar cada vez menos para a visão dos outros sobre mim. Mas nada supera o que eu aprendi sobre quem sou e as barreiras que rompi – internas e externas.

Afinal, você conhece os seus limites? Você sabe distinguir a linha tênue que separa a entrega máxima do inconcebível? Você já precisou ir até lá?

Por sempre refletir e me questionar bastante, a vida toda eu pensei que me conhecesse. Nunca o tanto que deveria, claro, mas o suficiente pra me guiar. Porém, o que até pouco tempo atrás eu não compreendia é que nós reagimos às situações em que nos colocamos e vivemos de fato. É apenas assim que sabemos como lidaríamos mesmo com algo. E nessas horas, a teoria pouco tem valor.

Portanto, sim, eu me conhecia, mas eu nunca tinha experimentado diversas situações que vivi de 2018 pra cá. Eu construí todas elas. Muitas em conjunto. Outras sozinha. Tantas na vida real, e algumas apenas na minha mente tão barulhenta.

Eu conheci muitas versões de mim. E compreendi versões antigas também. As perdoei. Construí novas Fernandas pra desconstruir logo em seguida. Deixei meu coração solto. Depois o guardei a sete chaves novamente, só pra mais tarde o escancarar mais uma vez. Fiz o que tive vontade, quando tive vontade. Me envolvi, me apaixonei. Mudei de ideia. Fiz tudo de novo.

Me descobri. Encontrei em mim a minha melhor companhia. Senti o poder todinho nas minhas mãos. Vi novos tetos e horizontes. Provoquei. Brinquei, entrei no jogo, mudei os rumos. Perdi, ganhei. Marquei e fui marcada.

Conheci pessoas que viraram boas histórias. Que me ensinaram a ouvir o amor em idiomas distintos. Que ajudaram a me desvendar. Que toparam as minhas aventuras, entraram de cabeça nos meus devaneios. Tentaram me acompanhar. Sendo breves ou permanentes. Todos me fazendo me sentir presente. Corajosa. Viva.

Uns amores duraram o tempo de um batimento se acalmar e eu perceber que não era amor de fato. Outros aconteceram em uma realidade paralela, onde o relógio corria diferente. Uns pareceram sair de um livro de romance, outros de uma série de comédia.

Alguns amores se quebraram com a rapidez de uma palavra que fere. Alguns ainda despertam um riso frouxo. Outros permanecem no fundo da mente, seguros. Uns sempre vão ter o seu lugar. Outros eu nem sei como foram parar ali.

Todos conexão, verdade, coragem. Importantes. Todos a caminho da melhor versão.

Todos parte dela.

#9 Uma fórmula para o caos

Imagine seres humanos vindos do mundo inteiro, com vivências, valores, culturas e idades distintas. Agora os reúna em um ambiente totalmente novo, onde cada um carrega objetivos, saudades e expectativas particulares. A partir de agora, todos devem conviver juntos, diariamente. Pronto, é isso que é um intercâmbio.

Parece uma fórmula para o caos – e muitas vezes realmente é. Porém, esse também é o segredo que torna essa experiência algo tão transformador e relevante para o seu crescimento pessoal. Nós aprendemos muito sobre o outro e sobre como lidamos e reagimos ao diferente. O quanto ouvimos e absorvemos, o que negamos e quais partes de nós também são rejeitadas estão em jogo o tempo todo.

Respeito. Frustação. Limites. Tolerância. Amizade. Atração. Solidão. Nós aprendemos sobre egoísmo e também sobre conexão.

É como se você vivesse o primeiro dia numa escola nova, de novo e de novo. A cada vez que um colega de quarto diferente chega, a cada vez que é você quem se muda de casa. Todas as vezes em que você se hospeda em um hostel ou vai parar numa festa na casa de algum conhecido daquele amigo. Você se apresenta dezenas de vezes. E também escolhe a versão que vai mostrar de si, quem deve te conhecer de verdade e quem será apenas um passageiro do seu curto trajeto.

Você aprende a lidar com uma casa agitada justo nos momentos em que tudo o que a sua alma precisava era o silêncio. Você se vê passando por uma noite um tanto solitária em que todos já têm planos, mas o seu humor insiste em ditar outra direção. Porém, há alguns outros momentos em você espera que todos ao redor se contagiem pela sua empolgação e também queiram conquistar o mundo ao seu lado.

Conciliar culturas e personalidades é algo extremamente desafiador. Por isso, se permitir conviver com diferentes pessoas te faz um indivíduo melhor. Se expor a situações que vão te fazer explorar outras facetas de si te faz crescer e desenvolver características fundamentais para viver de forma mais leve. Empatia, paciência, respeito… São valores que você cria e aperfeiçoa à medida que lapida as relações com as pessoas a sua volta.

Há coisas que você só aprende sobre si mesmo quando convive com o outro. Se privar disso é viver para sempre acreditando que a ponta do iceberg é a única verdade. E “verdades absolutas” é um conceito que nunca vai existir. Nós precisamos submergir e abrir os olhos na água gelada. Acordar pra vida. Enxergar o outro. Para finalmente sermos capazes de enxergar as nossas versões mais puras e cristalinas.

Há pensamentos que só ouvimos quando voamos só

Alguém te ensinou que ficar sozinho é ruim. Que morar apenas com seus próprios pensamentos é inconcebível. Que você não deve buscar por aventuras e sim seguir o protocolo.

“Menina boa pra namorar, mulher pra casar.”

Te disseram que o certo mesmo é se garantir logo com quem te diz o “eu te amo” mais convincente. Você deve levantar as mãos pros céus se encontrar alguém pra te dizer o quanto você é bonita e “perfeita”, sabia? E que se por acaso a sua voz for se perdendo em meio a tudo, está tudo bem, pois afinal vocês são mesmo um só, né?

Te ensinaram isso. Me ensinaram também.

Mas a verdade é que você não é o amor da vida de ninguém. E ninguém tampouco deveria ser chamado do seu. Nós cruzamos com amores ao longo da vida. E, de uma forma ou outra, todos se vão. Te ensinam, aprendem, crescem e te ajudam a crescer. Te fazem rir, chorar, se odiar (ou os odiar, acontece). Mas não importa. Mesmo. Todos passam, porque todos tem que ir. Mas as lembranças vão ficar. As marcas, as experiências, os aprendizados. Esses vão ficar.

O que importa é o valor que você dá pro único e verdadeiro amor que existe pra sua vida, que é exclusivamente você. O valor que você dá aos seus pensamentos, sua história, seus traumas, suas belezas. Os seus defeitos, suas dificuldades e a sua evolução. Nada disso pertence a ninguém que não seja você. Então por que seria uma ideia minimamente válida colocar tudo que você é na mão de um outro alguém? Você não é o outro, não pertence ao outro e muito menos é metade.

Se colocar em primeiro lugar não é egoísmo, “desapego não é desamor” (já diria a Isabela Freitas). O amor é de fato o único caminho possível pra percorrer por esse mundo.

Nós devemos amar sim, muito, o tempo todo, intensamente. Experimentar, quebrar a cara, mudar de opinião. Se entregar, se comprometer, compartilhar a vida juntos. Mas o erro é achar que alguém deve ser tudo o que você sabe sobre o amor. Isso sim é que me soa tão triste.

A vida tem tanto mais pra te oferecer. Ah, se você soubesse! Se você se permitisse saber… Mas há pensamentos que só ouvimos quando voamos só. Mas há quanto tempo as suas asas estão paradas?

O mundo precisa das suas vivências

Do que você gosta? O que você quer?

São perguntas básicas mas que me paralisam na maioria das vezes. Porque eu não sei respondê-las. Às vezes porque eu nunca me perguntei isso, às vezes porque não sei me decidir. Mas muitas vezes porque eu não me permito arriscar. Descobrir na hora, descobrir no ato.

Por que é tão difícil? Por que errar é tão ruim? Onde você aprendeu que existe o “fazer errado”? São as impressões? São os julgamentos? Que poder as outras pessoas têm sobre os seus atos? E as suas falas? Ah, as suas falas… Quantas vezes você pensou e aquele raciocínio morreu ali? Morreu sem plateia. Morreu sem atenção. Sem valor. Nem mesmo o seu.

Quem decide o que é bom o bastante para ser externalizado? Para ser ouvido, para ser julgado. Julgado sim, por que não? Você será julgado. Dizendo ou não. Sorrindo ou não. Postando ou não. Se expressando ou não. A diferença é que quando você coloca pra fora o que sente, o mundo te vê pelo o que você é. Você é o que você pensa. O mundo externo sabendo ou não. A energia não mente, suas vibrações também não.

O mundo precisa das suas vivências. Ele precisa da de todos. É o alimento do Universo. Você o compõe por isso. Porque importa. Porque conta. Porque é mais um que constrói o todo. Porque tem voz, tem opinião.

E se mostrar para o outro é isso. Você absorve e será absorvido. Se queima enquanto também é queimado. É intimidante, pode ser assustador. Mas se guardar pra si é se ferir sem ver. E sem ser visto.

Então diga. Apenas diga.